Produtores de nós mesmos: liberdade ou abandono?
- Jéssica Fronza
- 5 de mai.
- 3 min de leitura
Se no último texto falamos sobre essa necessidade de sermos gestores e produtores de nós mesmos, hoje eu queria dar mais um passo nessa conversa. Será que produzir a si mesmo é realmente uma escolha… ou é mais um reflexo do abandono estrutural que a arte sofre no nosso país?
Eu confesso que, por muito tempo, acreditei que ser dona dos meus projetos seria uma forma de liberdade. Ok, de certa forma é... Ter autonomia sobre o que crio e sobre como quero colocar no mundo as minhas ideias é um privilégio que muitos artistas ainda não conquistaram. Mas quanto mais tempo eu passo nesse meio, mais eu sei que essa necessidade de sermos nossos próprios produtores, gestores, empresários, divulgadores, técnicos e até contadores não nasceu de um desejo interno... nasceu da falta de opções.
A verdade é que a maioria dos editais é feita para poucos. Que as verbas públicas e privadas para a cultura nunca dão conta de atender a demanda. As estruturas de apoio, que deveriam garantir que artistas possam se dedicar ao seu ofício, são frágeis — quando existem. E aí... quem quer criar, quem quer viver de arte, se vê obrigado a acumular funções para não parar? Para não desaparecer!?! Para poder ser “competitivo” com aqueles que de fato têm estrutura, contatos, dinheiro, histórico, influência política etc…
Produzir-se pode ser empoderador. Mas também é solitário, cansativo e, na maioria das vezes, injusto. Não falo isso da boca pra fora. Quando ganhei um edital em uma lei emergencial, me vi com um valor pequeno nas mãos — pequeno demais para remunerar todos os profissionais que eu gostaria (e precisaria) de ter contratado. Mesmo assim, fiz questão de pagar valores justos para cada colaborador. Isso significou que precisei assumir diversas funções sozinha, recebendo apenas como uma delas. Deixei de contratar, por exemplo, um designer gráfico, e tive que me virar com o Canva — mesmo sabendo que o resultado seria muito melhor com alguém da área. E mesmo com todas essas limitações, eu sabia que não abriria mão de pagar direito a quem estava comigo.
Isso não me impediu de sentir cansaço, frustração, vontade de desistir — e eu já desisti, uma vez e outras, por um tempo. Me mudei de estado, busquei outro rumo, mas a arte me achou de novo - todas as vezes! E eu entendi que quando você é artista, não dá pra fugir: a arte volta. Ou talvez a gente nunca consiga respirar direito sem ela.
Foi só quando encontrei as pessoas certas que as coisas começaram a mudar. E eu soube que eram as pessoas certas porque elas não disseram “vem comigo”, mas sim: “vai sozinha, mas eu tô aqui se precisar”.
O problema não é aprender a se organizar, a se divulgar, a gerir o próprio trabalho. O problema é sermos obrigados a fazer tudo isso sozinhos porque, se não fizermos, ninguém faz. Aí o que era pra ser liberdade vira sobrevivência! E eu não tô dizendo que o artista não deva ser responsável pelo seu caminho. Mas a gente precisa entender que essa “autonomia total” nem sempre é uma escolha. Muitas vezes, é uma resposta desesperada a uma falta de políticas públicas, de incentivo, de valorização real, de cultura de nós mesmos.
Se tem algo que realmente me orgulho na J Fronza Produções é a capacidade de transformar ideias e inspirações em palavras burocráticas que conseguem ser entendidas como oportunidades para quem decide apostar no projeto. Às vezes a gente precisa dessa mediação para conseguir o apoio necessário, sem ter que abrir mão de tudo o que é importante para que o trabalho exista. E ao mesmo tempo, adoro fazer parte de equipes que, assim como eu, precisam de um olhar mais humano e atento. Além de produzir meus projetos, também trabalho como assistente de produção em outras produções, e posso dizer que o que me move nessas equipes é justamente o desejo de contribuir com algo mais do que o técnico: estar ali, somando com o meu olhar e com a visão de quem entende a arte como um processo coletivo e transformador.
E aí eu te pergunto: 💭 Se você tivesse uma estrutura real de apoio hoje, o que faria diferente no seu trabalho artístico?
Me conta nos comentários. Vamos conversar.
Comments